Vizinho às drogas
- Luciana Costa
- 15 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
A voz de quem sobreviveu ao fogo cruzado do tráfico de drogas
Por André Phelipe, Kátia Leila, Luciana Costa e Pedro Petrocélio.

Créditos: Gabriel Malta
É comum pensar que as partes enredadas no combate às drogas são apenas os policiais e os traficantes ou usuários. No entanto, existe um terceiro lado: as pessoas que convivem em meio a essa dualidade, e ao mesmo tempo, sofrem diretamente as consequências desse confronto armado.
Em decorrência do cenário violento em diversas Regiões Administrativas (RA) do DF, muitas pessoas vivenciaram situações nas quais perderam algo insubstituível em suas vidas. Ana Carolina Lima, 29, conta que em 2009, na época moradora da Ceilândia, o ex-marido e o cunhado foram vítimas de um tiroteio entre gangues perto de casa.
“Os dois saíram para correr num sábado à tarde. A família estava reunida lá em casa. De repente, ouvimos vários tiros e um dos vizinhos veio avisar ‘acabaram de matar seu marido!’ Eu me deparei com meu cunhado morto no chão e meu marido desacordado com um tiro na cabeça. Depois, nós descobrimos que eles estavam na hora errada e no lugar errado. Naquele momento, estava tendo disputa entre gangues e, como estavam correndo, eles foram alvejados por ambas”, conta Ana Carolina.
Francisco Aurélio, 23, ex-usuário e morador do Recanto das Emas, afirma que morar em uma cidade com altos índices de tráfico de drogas influencia o uso de entorpecentes, induzindo inclusive crianças a ter contato desde cedo. Francisco diz que só conseguiu sair do mundo das drogas com o apoio da família.
Porém, nem todos conseguem escapar do vício, Maria Odetiza Araújo, 79, mãe de um usuário de drogas há quase 30 anos, vive até hoje as consequências e preconceitos de ter um filho dependente e marginalizado: “os usuários não são bandidos, são vítimas das drogas que se alastram pelo mundo, seja bebida ou fumo. As pessoas confundem um drogado com um bandido.”
A Folha do Cerrado entrou em contato com Laís Laerte, 30, ex-traficante que afirma que seu principal objetivo no tráfico era obter luxo. Hoje, mãe e em um relacionamento sério, a entrevistada garantiu que não comercializa mais os entorpecentes. Questionada sobre como saiu do tráfico, ela conta: “a Polícia invadiu minha casa, humilhou minha mulher e minha filha, que não tinham nada a ver com a situação. Eles entraram na casa dos meus pais e revistaram tudo, felizmente, não conseguiram me pegar. Resolvi mudar de estado e passei a estudar para começar uma vida nova. Hoje sou formada em programação”.
CONSUMO DE DROGAS NO DISTRITO FEDERAL
O ano de 2018 nem terminou e os números da comercialização de drogas vêm assustando as autoridades. Major Michello Bueno, 41, da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), informou à nossa reportagem que de janeiro a julho deste ano, só em Brasília foram 573 ocorrências por porte de entorpecentes.
Ainda segundo Bueno, Taguatinga teve 430 casos, seguido de Ceilândia com 383, Samambaia com 326 e Gama com 295. Entre janeiro e junho a Polícia Civil apreendeu 1,8 kg de maconha, 42 kg de cocaína, 30 kg de crack e 358 frascos de lança perfume. Sendo essas as mais consumidas no DF no primeiro semestre.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Em contato com a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) do Departamento de Polícia Especializada da PCDF, o delegado Luiz Henrique Dourado declara que a comunicação por aplicativos e redes sociais entre os criminosos aumentou. Acompanhar e monitorar essas conversas é dever da polícia. “Outra estratégia muito importante é atuar na lavagem de dinheiro. No topo da pirâmide do tráfico estão as pessoas que movimentam todo o lucro. Deve-se preocupar com a investigação e prisões em flagrante do tráfico de drogas, apreender drogas e armas, bem como observar os envolvidos que movimentam esse dinheiro. Normalmente essas pessoas não possuem contato com as drogas. É muito importante focar a investigação nesses indivíduos.”
Em contrapartida, a entrevistada Maria Odetiza opina: “Eu acredito sim (na legalização das drogas), é a única esperança que eu tenho, além de Deus. O problema se alastra cada vez mais, porque é fonte de dinheiro para os grandes traficantes, porque os pequenos ficam na rua, sem-teto, servindo como aviões. São os grandes que fazem fortuna, na realidade. Tudo aquilo que é proibido, é atraente para as pessoas.”
Tal divergência de opiniões e métodos resulta numa pluralidade de saídas para alcançar o objetivo único: vencer a guerra às drogas.
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Postada em: https://folhadocerrado2018.wixsite.com/unipjornal/vizinho-drogas
Produzida em setembro de 2018.
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