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Veganismo: a nova tendência de mercado e de sustentabilidade

  • Foto do escritor: Luciana Costa
    Luciana Costa
  • 11 de dez. de 2020
  • 8 min de leitura

Atualizado: 27 de jan. de 2021

Recentemente, as opções vegetarianas e veganas são obrigatórias em restaurantes e supermercados; entenda o impacto do movimento na economia e no meio ambiente.


Por Luciana Costa


O veganismo virou tendência de mercado em Brasília. Nos últimos anos, o estilo de vida vegano conquistou espaço no comércio, tornando comum as opções sem proteína animal em restaurantes e nas prateleiras dos supermercados.


Enquanto o vegetarianismo se restringe apenas a alimentação, o veganismo é uma filosofia de vida que recusa todo produto de origem animal. Marcelo Silva (24) aderiu o estilo de vida há quase dois anos e afirma que ser vegano é “você ser consciente no mundo em que você vive. Fazendo o bem para o máximo de pessoas que você consegue, e tentando minimizar o que, infelizmente, você não consegue”.




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“Ser vegano é olhar para além

do que você come,

do que você faz e ver

qual é o impacto que

você causa na natureza e

no mundo.”


- Marcelo Silva




Marcelo Silva, vegano e biólogo, em sua casa. (Créditos: Luciana Costa)


A nutricionista e gastrônoma, Júlia Dovera (26), ressalta que “o veganismo é a ideologia. Se assemelha com vegetariano estrito, aquele que não consome nada de origem animal, porém não utiliza nenhum produto que tenha sido testado em animais, como xampus e até roupas de couro e maquiagem”.


A especialista ainda diferencia as ramificações do vegetarianismo, esclarecendo que em nenhuma subclasse há o consumo de carne. “Tem o ovolactovegetariano, que consome ovos e

lacticínios. Temos o ovovegetariano, que consome somente ovos, e lactovegetariano, que consome apenas os derivados do leite”.


O movimento tem a característica principal de ser contra o sofrimento animal em qualquer circunstância. Marcelo (24) conta que “a partir do momento que você busca saber o que você come, o que você ingere e a origem do alimento, você passa por essa mudança de pensamento”. A opinião dele é comumente utilizada na defesa do veganismo; afinal, como

surgiu?



A HISTÓRIA DO MOVIMENTO


Sem um início exato definido, há relatos e escritos históricos desde a Grécia Antiga, com o filósofo e matemático grego, Pitágoras, aderindo ao veganismo, até os tempos atuais. Entretanto, o tema começou a ganhar relevância com a oposição pública de profissionais renomados, como médicos e especialistas, ao consumo de carnes, de acordo com a The Vegan Society.


O site Vegazeta, conta a história do movimento, na qual o highlight aconteceu em agosto de 1944 na capital britânica com a tentativa de Donald Watson de publicar artigos exclusivos sobre veganismo pela Sociedade Vegetariana de Leicester. Após a proposta ser declinada, Watson reuniu-se com outros cincos vegetarianos para elaborar uma filosofia de vida que beneficiasse mais os animais. Ao superar uma forte oposição, Watson criou o boletim informativo Vegan News, que esclarecia a utilização dos termos “vegan” e “vegetarian”(vegano e vegetariano, em português, respectivamente) suas diferenças e definições que continuam intactas até hoje.


No Brasil, o jornalista Carlos Dias Fernandes divulgava fortemente o movimento, chegou a publicar o livro “Proteção aos Animais” em 1914. Além dele, o médico Flávio Maroja também apoiava publicamente, tendo um artigo que falava dos benefícios do vegetarianismo veiculado no jornal A União em 30 de agosto de 1916.



A TENDÊNCIA DE MERCADO


Apesar de não ter uma pesquisa nacional acerca do número exato de veganos e vegetarianos, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima que, dentre dos 30 milhões de

vegetarianos, cerca de 7 milhões são veganos em todo Brasil. Segundo a Sociedade Vegetariana, já existem cerca de 240 restaurantes vegetarianos e veganos espalhados pelas capitais. De olho no mercado em ascensão, várias empresas lançam alimentos voltados para este público.


Numa pesquisa rápida no Google, é possível encontrar boas sugestões de restaurantes veganos em Brasília, como por exemplo: o Villa Vegana, self-service próximo a Ponte Juscelino Kubistchek. Localizada na Asa Norte, a Cannelle Veggie também chama a atenção pela variedade de bolos e tortas doces. Ao conversar com os proprietários, Marcelo Dornelas e Jamille Avelino, eles falaram mais sobre o segmento.





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Marcelo Dornelas e Jamille Avelino são proprietários da Cannelle, localizada na comercial da 213 Norte. (Créditos: Ananda Almeida)


Jamille idealizou a confeitaria há seis anos atrás, ela conta que a ideia ao criar as receitas “não era fazer uma comida com cara de vegana para vender para um vegano; eu queria fazer uma comida vegana com cara de comida tradicional tão gostosa e bonita quanto (às comidas tradicionais) para vender para o público vegano e também comum”.




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Bolo vegano. (Créditos: Luciana Costa)


Dornelas, casado com Jamille, complementa: “havia uma demanda e essa demanda foi crescendo. As pessoas queriam ter esse tipo de produto dentro de casa, e precisava ser feito com qualidade, com carinho e com profissionalismo”.


O casal afirma que o público interessado é amplo, sendo que 60% são de fato vegetarianos e veganos, o restante são pessoas com algum tipo de restrição alimentar. Ou seja, a inclusão nos cardápios não beneficia somente veganos, mas também, intolerantes à lactose e ao glúten.


Ademais, Dornelas nota que “quem não se atualizar, no sentido de não trazer uma proposta mais sustentável e contemporânea dificilmente vai sobreviver nos próximos anos, porque as pessoas estão buscando um mundo mais verde, mais saudável [...] Não vai demorar para o veganismo e o desenvolvimento sustentável tomarem conta do mercado, não dá para negligenciar ou fingir que não existem.”

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Um exemplo disso é o restaurante Madero reconhecido internacionalmente. Com o slogan “The Best Burger In The World” (o melhor hamburguer no mundo, tradução direta), a hamburgueria tem lançado não apenas uma opção vegetariana e vegana, aumentando cada vez mais a variedade. O preço também chama a atenção. Segundo a reportagem do HuffPost, os produtos veganos foram incluídos nos supermercados britânicos a preços altos – o que não é diferente no Brasil. Cardápio do restaurante Madero.

(Créditos: Luciana Costa)



Os dados do IBOPE mostram que há o interesse da população em consumir os produtos veganos, porém muitos brasileiros não compram por considerarem os preços elevados. Como

exemplo, a pasta de dente vegana da marca suíça Curaprox custa 79 reais nos mercados brasileiros – a revista IstoÉ publicou em 5 de abril de 2019 acerca do produto, afirmando que o creme dental possui extratos de ervas com propriedades regenerativas.


Em contrapartida, Marcelo Silva (24) conta que virou vegano quando decidiu morar sozinho, “na época, o dinheiro encurtou e a dieta vegana é muito mais barata e muito mais em conta, só juntou o útil ao agradável”. Contudo, ele reconhece: “de fato, há algumas coisas mais caras, mas compensa com outras muito mais baratas”.


Ele ainda diz que a oferta e a procura podem estar ocasionando uma baixa nos preços dos produtos, como a proteína texturizada. “Por que eles (os empresários) estão produzindo uma carne vegetal que parece uma carne animal? Com textura, com sabor e até com teor de gordura? Porque eles querem alcançar um público e fazer as pessoas entenderem que é possível se alimentar sem a degradação animal”, explicou Marcelo.


Em uma ida aos mercados em Sobradinho, foi possível encontrar muitos produtos destinados a este público, como “frango” à base de ervilha, coxinhas, sorvetes, biscoitos, pães e até sucos.



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Carne texturizada vendida em Sobradinho.

(Créditos: Luciana Costa)


O FENÔMENO NAS REDES SOCIAIS


De acordo com a reportagem da Folha de São Paulo, os empresários do setor de produtos veganos dizem que “o crescimento deste mercado tem sido da ordem de 40% ao ano”. Mas, tal aumento deve-se exatamente a quê? Não é novidade que as redes sociais podem influenciar no dia a dia, pois se tornaram uma grande potência neste sentido devido às inúmeras trocas de informações. Os perfis de influenciadores digitais adeptos ao veganismo se multiplicaram em blogs, Instagram e YouTube nos últimos anos.


No site britânico HuffPost, a jornalista Sara Spary analisou que o veganismo virou fenômeno de bem-estar incentivado pelas redes sociais e promovido pelas empresas. “O veganismo é instagramável, é desejável e movimenta bilhões de dólares por ano. [...] De uma opção de estilo de vida representativa de um nicho de pessoas preocupadas com o bem-estar dos animais e o meio ambiente, o veganismo se converteu em movimento do mainstream representado através de mais de 80 milhões de posts no Instagram, em um arco-íris de ‘hambúrgueres’ suculentos e tigelas que explodem em cores variadas.”, escreveu.


O fenômeno do veganismo é criticado por ativistas veganos, que tentam reafirmar os princípios do movimento. Já o papel dos influenciadores famosos, como “VeganoPeriférico”, que soma 165 mil seguidores no Instagram e “Fábio Chaves”, que tem mais de 200 mil inscritos em seu canal no YouTube, têm questionado a ausência de recomendações e conhecimento nutricionais.


A SUBSTITUIÇÃO DA PROTEÍNA ANIMAL


Ao contrário do que muitos pensam, a dieta vegana é bastante variada. Mas, afinal, como o corpo humano reage com a substituição da carne por vegetais? Qual é a melhor forma de fazê-la? A importância do profissional de nutrição é inegável para responder esses questionamentos.


A nutricionista e gastrônoma, Júlia Dovera (26), explica que “quando uma pessoa vira vegana, ela nota, primeiro, a questão intestinal, porque muda completamente, ela está consumindo muito mais fibras devido aos vegetais em grande quantidade. Outra parte é a disposição, porque, muitas vezes, a carne deixa mais letárgico devido a digestão lenta, a pessoa nota essa melhora, essa energia a mais”.


Marcelo Silva (24) confirma que ele tem mais disposição física e emocional para fazer coisas que antes ele não fazia de maneira alguma, e completa: “além disso, eu tenho uma visão de mundo aberta que antes eu não tinha”.


Júlia também é vegetariana há três anos. Ela via uma necessidade na área para ajudar melhor os vegetarianos e veganos a saber se alimentar sem a carne, e esclarece: “na alimentação vegetariana, a gente percebe que todos os alimentos têm algum teor de proteína, mas o alimento com maior teor de proteína no reino vegetal são as leguminosas”. De acordo com ela, os principais substitutos da carne são os grãos, feijão, grão-de-bico, lentilha, soja e seus derivados, como o tofu e a proteína texturizada.


Os estudos da American Dietetic Association apontam que é possível ter um desenvolvimento saudável com a dieta vegana, se consideradas recomendações de nutricionistas como a adição de vitamina B12, o consumo equilibrado de cálcio, ferro e zinco, além de proteínas (com produtos à base de soja e outras leguminosas, por exemplo).


“A única vitamina que faz falta por conta do consumo de animais é a vitamina B12. O vegano e vegetariano precisam ter uma atenção especial, um cuidado, fazendo exames de

sangue frequentemente e talvez uma suplementação”, adverte Júlia.


Marcelo também opina sobre a saúde e aconselha: “Nós costumamos ser veganos na medida do possível e do praticável. Se eu estou doente e eu preciso tomar antibiótico, por exemplo, esse antibiótico foi testado animais – algo que sou contra. Mas, infelizmente, já foi testado. Eu vou tomar o remédio e a vacina, sabendo dos testes em animais, porém, sempre devemos ponderar: eu vou colocar minha vida em risco por um estilo de vida?”


Durante a visita à casa de Marcelo, em Sobradinho, ele ofereceu cupcakes veganos sabor chocolate com cranberry e sabor laranja, feitos com leite de soja. “Se você tem uma alimentação equilibrada, você fica bem e feliz”, ele disse sorrindo.


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Cupcakes feito pelo entrevistado.

(Créditos: Eduarda Marques)


O IMPACTO NO MEIO AMBIENTE


As reivindicações do movimento giram em torno do sofrimento dos animais, que nascem para morrer, e do menor impacto possível na natureza. De acordo com o Portal Vista-se, 193 animais são mortos pela pecuária brasileira em apenas um segundo, vinte e quatro horas por dia.


Formado em Ciências Biológicas no UniCEUB, David Ribeiro (41) confirma que há uma relação direta entre o veganismo e sustentabilidade em alguns aspectos, como por exemplo, na preservação de áreas florestais que possivelmente seriam um pasto para gados.


No entanto, David contesta os veganos ao dizer que “não adianta ser vegano e poluir consumindo plásticos e similares, até porque esse impacto na sustentabilidade é extremamente pequeno”.


Vegano e também biólogo, Marcelo Silva (24) tenta amenizar os danos, produzindo “o mínimo de plástico e de lixo possível para que o impacto no meio ambiente seja menor. Também tem como fazer composteira e ter mais plantas em casa, como é meu caso. Eu tento reduzir esse impacto na natureza como ser humano, que consome, que gasta água e energia”.


Aos poucos, o movimento ocupa cada vez mais espaço no mercado e mundo sustentável. Muitos consideram o veganismo como um caminho para um mundo melhor ao saberem que 70 bilhões de animais terrestres são mortos para o consumo humano anualmente. Por mais que a base do veganismo seja o respeito aos animais, respeitá-los como a si mesmo, os adeptos devem ser cientes que a existência humana causa impacto – querendo ou não – na natureza.


Produzido em outubro de 2019.



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