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Independente por impulso

  • Foto do escritor: Luciana Costa
    Luciana Costa
  • 24 de abr. de 2019
  • 4 min de leitura

Por Luciana Costa


Uma mulher com sorriso de menina anda apressadamente com o telefone e câmera fotográfica na mão nos corredores do Planalto. Embora tenha o crachá no pescoço e aja profissionalmente, alguns desconhecidos a tratam como criança e julgam como ‘novinha’ e ‘bonitinha’, outros chamam-a carinhosamente por Lucy. Quem a subestimar por sua baixa estatura, não imagina a trajetória de autonomia e determinação.


Desde bebê, costumava andar para lá e para cá sem pedir permissão aos seus pais, que tinham que correr feito doidos atrás da menininha. Em uma tarde, pregou o maior susto em sua mãe quando saiu de casa sem avisar para brincar com uns coleguinhas. Sua irmã Lary, que a encontrou tranquila na rua da frente, conta o desespero da família ao procurar a caçula com a ajuda dos vizinhos. A pequena Lu não tinha medo de desbravar o mundo sozinha.


Já aos cinco anos, Lucy sabia fazer a própria mochilinha rosa para passar o fim de semana na casa do pai, ainda levava as pelúcias para brincar lá. A irmã do meio, Sasha, relembra que a vestia de professorinha, porque “a Lulu gostava de dar aulas para os bichinhos para imitar nossa mãe”. Por outro lado, ela detestava desfazer a mochila na segunda-feira aos mandos da mamãe - que nunca permitiu bagunça dentro de casa.


Sempre teve várias casas, ela e as irmãs pingavam na casa da mãe, do pai, da tia, dos avós… Toda semana era um lugar diferente para brincar e dormir durante toda infância. Não é à toa que atualmente ela prefere ficar em casa na companhia dos livros e do Netflix, embora ainda goste de almoçar todos os dias na casa da vó Maria.


Com 16 anos e cheia de vontade, Lucy encontrou-se numa reviravolta: sua mãe havia casado de novo e mudou-se para outra cidade. Ela, porém, não se contentou com a alternativa de conviver com o padrasto - apesar dele ser ‘gente boa’ - prometeu a si mesma que não moraria com outro homem até casar e buscou outra saída.


Inscrita num processo seletivo, ela foi aprovada e convocada para um estágio no tribunal local, onde aprendeu muito além da área jurídica. O que ninguém sabe é que, em meios as atividades, ela descia ao arquivo do fórum para curiar o divórcio litigioso dos pais; leu tudo nos autos processuais, das petições iniciais até a sentença final das guardas das filhas.


Sasha já havia começado a trabalhar nos fins de semana para ganhar um extra. Logo, as duas decidiram morar juntas em um apartamento de dois quartos. “Sem pais, sem regras!” Como ainda era adolescente, iludiu-se com a libertinagem de ‘agora faço o que eu bem entender’ e gastou seu primeiro pagamento inteiro com roupas sem cogitar em pagar as contas: condomínio, luz, água, wi-fi, telefone, mercado, remédios...


A ‘irmã-mãe’ conta que deu-lhe uma bronca, mesmo entendendo que não foi de propósito. Sasha teve que explicar: “contas primeiro, se sobrar, você poupa ou gasta um pouco só” e ainda pagou todos boletos do mês com o dinheiro da poupança para não sujar o nome de ninguém.


A rotina de Lucy não era fácil no último ano do Ensino Médio, pelo contrário, era exaustiva e quase impossível aos olhos de muitos. De segunda a sexta, ela acordava às 4h30 da manhã para fazer os deveres de casa, ia ao colégio pela manhã, estagiava até às sete da noite, ia direto para academia e depois cuidava da casa com Sasha antes de dormir. No entanto, a teimosia não deu espaço à perda de fôlego.


A vida adulta veio antes mesmo do primeiro diploma. Os amigos mais antigos acompanharam o amadurecimento um tanto precoce, até os pais deles já diziam “essa menina é muito pra frente”. Julie, amiga de infância e, hoje, estudante de Filosofia na UnB, conta que essas situações a deixaram mais responsável, hábil e preparada para lidar com certas questões.


Ao som de Caetano e outras vozes clássicas, ela satisfaz um pouquinho a sede por poesia e descansa a alma. Na rotina tão planejada, ela já não tem o tempo que gostaria para ler e reler os poemas profundos de Cecília Meireles, modernista brasileira por quem é apaixonada desde garota.


Por ser cristã, ela leva a sério o mandamento: ame ao próximo como a ti mesmo, popularmente conhecido como “não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”. Até porque, em várias situações, os conhecidos do estágio, da universidade, da igreja insultaram e desprezaram a doce Lu.


Em um discipulado, Debby lhe contou como o equilíbrio da vida em Cristo atualmente tem transformado seu comportamento, trazendo mais discernimento para lidar com as coisas boas e ruins do dia-a-dia. Já Luidy relata que várias vezes que a ela reagia de forma exagerada na época da escola, lembrou que ela se dizia anarquista e era totalmente “rebelde sem causa”.

A maioria dos amigos com quem cresceu continuam firme e forte ao lado dela. São poucos, mas não se importa com a quantidade. A Luyza, uma de suas melhores amigas desde 2012, falou a Lucy que é leal a si própria, aos amigos, ao namorado, aos estudos, aos seus conceitos, a tudo.


Sua amiga fiel desde a pré-adolescência, Trys, disse o quanto ela tem uma personalidade forte e consegue influenciar e transmitir o que sabe ao próximo há tempos. E mais, as duas afirmaram que “ela foca completamente no que está fazendo, seja para estudar, trabalhar, dirigir, brigar, rir; ela sempre vive o momento”.


Isso demonstra autoconhecimento e auto-aceitação, afinal, sem amor próprio não tem como ir a nenhum lugar. Depois de uns anos, ao perceber o menosprezo de uns por quem ela aparenta ser, ela aprendeu a se impor como mulher, como capaz, como inteligente, como ágil, como quem ela verdadeiramente é.


Um amigo antigo já não tão íntimo a descreveu como a lua que encontra o horizonte de madrugada. Isto é, a cada manhã, Lucy abre-se igual a uma flor, com os pedaços de uma vida nada fácil e repleta de desafios, mas escrita por Deus, quem a protege como a menina dos olhos contra todo mal.


Ela também tem em mente o eterno verso de Cartola, o favorito do seu falecido avô, cantando que o mundo é um moinho e tritura nossos sonhos mais mesquinhos. Preocupada se seus objetivos eram avarentos, ela busca as oportunidades de forma justa, seja empreendendo seu próprio projeto ou enviando um simples currículo. Desta maneira, foi selecionada para estagiar na assessoria de imprensa de um dos ministérios mais próximos do presidente da república em 2018.


Basta um impulso para ser independente e criar oportunidades, que sejam life-changing.

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